Os psicofármacos, também conhecidos como medicamentos psicotrópicos, são
utilizados frequentemente em consulta de Psiquiatria para tratar uma variedade de
perturbações mentais comuns, como a depressão, a ansiedade, a insónia, entre muitas
outras. No entanto, para alguns, constituem ainda um bicho-papão e são fonte de
muitos receios enraizados na sociedade. Há mitos associados a estes medicamentos
que podem levar ao adiar, ou mesmo à ausência da procura de ajuda, sendo
importante esclarecê-los.
Um dos mitos mais comuns associados a estes medicamentos é o de que os
psicofármacos são "pílulas mágicas" que podem resolver fácil e rapidamente todos
os problemas emocionais e mentais. Na realidade, estes medicamentos são apenas
uma parte do tratamento, geralmente combinados com psicoterapia, suporte
emocional e mudanças comportamentais no estilo de vida. Eles ajudam no alívio dos
sintomas, mas não resolvem problemas vivenciais por si. Além disso, encontrar o
medicamento certo e a dose adequada pode levar algum tempo e requer
acompanhamento médico regular por um psiquiatra. Da mesma forma que a doença
se instala lentamente, também o tratamento não é eficaz de um dia para o outro. Os
mesmos psicofármacos podem não funcionar de igual modo para todas as pessoas, e
pode ser necessário tentar medicamentos diferentes antes de encontrar o mais
adequado.
Por outro lado, ouvimos frequentemente frases como “quem se encharca em
medicamentos é fraco, não consegue ultrapassar as dificuldades sozinho”. Ideias
como estas perpetuam o estigma face à doença mental e aos tratamentos
psiquiátricos. A doença mental é um assunto sério, que não deve ser menosprezado, e
o cérebro é um órgão vital do organismo humano que pode, naturalmente, adoecer
como qualquer outro, sem poder de escolha por parte da pessoa doente.
Outra ideia comum é a de que os psicofármacos são viciantes. Embora alguns
medicamentos possam causar sintomas de dependência física, principalmente quando
usados em doses altas e durante longos períodos, a maioria dos psicofármacos não é
viciante quando usada corretamente e sob supervisão médica adequada. É
fundamental seguir as indicações do médico e não interromper a medicação prescrita
abruptamente, mas a dependência deste tipo de substância não é uma preocupação
comum.
Ouve-se ainda que os psicofármacos engordam e transformam as pessoas em
“zombies”. De facto, alguns medicamentos podem ter efeitos secundários que afetam
a cognição e o apetite, mas não devemos generalizar. Estas ideias advêm de há
algumas gerações atrás, em que se usavam psicofármacos mais antigos e hoje já
raramente utilizados, por terem sido criados outros mais modernos, com eficácia
semelhante e perfil de efeitos secundários muito mais favorável. Nos dias que correm,
felizmente, a larga maioria das pessoas que toma antidepressivos ou ansiolíticos, por
exemplo, consegue manter uma funcionalidade diária e atividade laboral sem qualquer

problema. Além disso, hoje dispomos de vários psicofármacos que não se associam a
alterações do apetite ou do peso.
É essencial entender que os psicofármacos são uma ferramenta valiosa e muitas vezes
indispensável no tratamento das doenças mentais. Importa lutar contra a doença e
não contra o tratamento. Cada pessoa é única e todos os receios e dúvidas devem ser
expostos abertamente ao médico: o objetivo é sempre, em conjunto, encontrar a
melhor e mais confortável abordagem para cada pessoa.

Carolina Almeida

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